Neste ano, 2021, realiza-se a COP26, na cidade de Glasgow, na Escócia. É a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021, que tem como meta manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, definido no Acordo de Paris. Um dos pontos mais importantes é a redução das emissões do GEE - Gás do Efeito Estufa.
O Governo Brasileiro anunciou, durante a COP26, o compromisso de acabar com o desmatamento ilegal até 2028 e, com relação ao GEE, ampliou a meta de redução de 43% para 50% das emissões com relação aos níveis de 2005. Até 2050, a meta é zerar as emissões (saldo líquido).
O papel da sociedade como um todo
Ações voltadas para o desenvolvimento sustentável vem sendo cada vez mais valorizadas e estão, aos poucos, se tornando parte da cultura global. Consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos verdes, as empresas se preocupam cada vez mais com o impacto de suas ações no meio ambiente e os investidores valorizam empresas com selos e certificados que atestem processos de produção com compensação de carbono ou water footprint (pegada hídrica), por exemplo.
Bênção ou maldição?
O Brasil é responsável pela gestão de 60% da Amazônia, a maior floresta do mundo. Considerando as metas da COP26, temos um enorme desafio e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade de contribuir e dar um lindo exemplo ao mundo.
E o agronegócio brasileiro?
Ao contrário do que muitos dizem, o agronegócio, as fazendas e os produtores rurais no Brasil são um grande aliado do meio ambiente. E há evidências concretas disso.
A ILPF - Integração Lavoura-Pecuária-Floresta já é uma realidade. Como eu disse no artigo Ligando os Pontos, são mais de 8 milhões de campos de futebol de fazendas com florestas no Brasil. Esse sistema reúne diferentes modelos produtivos agrícolas, pecuários e florestais na mesma área. O cultivo pode ser consorciado, em sucessão ou em rotação. O importante é o benefício que oferece para todas as atividades da agricultura e, especialmente, para o meio ambiente.
Na ILPF podem ser usadas diferentes culturas agrícolas conforme a finalidade - alimentação, produção de fibras ou energia. O sistema pecuário pode ser feito preferencialmente com bovinos. Quanto às árvores, podem-se usar espécies madeireiras e não madeireiras, nativas ou exóticas.
Esse sistema de integração visa otimizar o uso da terra, com a implementação de métodos que reduzem a erosão do solo, propiciando maior produtividade numa mesma área, com o melhor aproveitamento dos insumos, diversificação da produção e geração de renda e emprego.
O sistema de plantio das árvores nas propriedades que prezam a sustentabilidade deve ser feito de forma a preservar o solo da erosão e a racionalização do uso da água. A exploração econômica das áreas reflorestadas das fazendas deve ser cuidadosamente planejada de forma sustentável, com o uso de práticas e equipamentos desenvolvidos com tecnologia que promova a preservação do solo e ao mesmo tempo o sequestro do carbono da atmosfera pelo solo.
Mas como a ILPF vai ajudar a atingir as metas da COP26?
A base da ILPF é a rotação de culturas na mesma área. Isso vale para trigo, soja, sorgo e até capim, sempre com a presença de florestas. E o que ocorre é que tudo que nasce, vai sequestrando carbono da atmosfera e fixando no solo, reduzindo as emissões de GEE, ao mesmo tempo que também melhora produtividade e aumenta a receita do produtor.
O sistema ILPF pode ser adaptado para propriedades pequenas, médias ou grandes. As adaptações possíveis dependem de uma série de condições, como solo e clima, logística, relevo, mercado, produtor, mão-de-obra, assistência técnica, para citar apenas alguns elementos.
E na preservação das florestas, qual é o papel da ILPF?
A resposta é simples: redução da pressão sobre novas áreas.
Ao aumentar a produtividade e maximizar a receita do produtor, é possível produzir mais e arrecadar mais nas áreas já existentes. Ou seja, ao mesmo tempo que a ILPF é um sistema que garante a presença de florestas nas fazendas, ela ainda acaba com a necessidade de expansão sobre florestas.
E por quê a ILPF funciona?
O ponto chave é que a sustentabilidade ambiental anda de mãos dadas com a sustentabilidade econômica.
A grande dificuldade da redução dos GEE, da preservação das florestas ou de se atingir qualquer objetivo da COP26 é que a preservação ambiental é sempre um bem difuso que vai contra um interesse individual. Isso vale tanto na perspectiva macro como micro.
Na prática, um indivíduo precisa abrir mão, no curto prazo, de um "benefício", ainda que temporário ou ilusório, em prol de um bem difuso, que irá beneficiar a sociedade como um todo no longo prazo. O trade-off não parece valer a pena para o poluidor "free-rider".
Mas quando você tem um sistema que inverte esta lógica fazendo com que a vantagem para o indivíduo esteja justamente em preservar o meio ambiente, você tem pessoas interessadas em aderir e contribuir. E este é o grande exemplo do Brasil para o mundo. Estamos invertendo a lógica e mostrando que nosso setor agroflorestal e de produção de alimentos são grandes aliados da preservação.
Vinicius Cruz Camargo
CEO, Hawk Digital Marketing
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